Direitos reprodutivos e aborto na mídia argentina dos anos 90

Abstract

A discussáo sobre a problemática do aborto na Argentina sofreu urna guiñada significativa em meados da década de 90, quando passou da condigáo de tema marginal na agenda da mídia as primeiras páginas dos jomáis de maior circulagáo do país e aos suplementos dominicais —num dos momentos mais críticos em 1994—, convertendo-se também em objeto privilegiado de debate e envolvendo atores sociais diferentes e antagónicos, em cenários políticos de dimensóes e localizagáo geográfica diferentes. Vale lembrar que as agóes e estratégias públicas de grupos de mulheres e feministas em torno da descriminalizagáo ou legalizagáo do aborto na Argentina vém se desenvolvendo de maneira consistente desde o final da década de 80 (Bellucci, 1997; Durand e Gutiérrez, 1998), constituindo um contrapúblico subalterno (Fraser, 1993) de caráter dual, na medida em que funcionam como espagos de reflexao e reagrupamento, onde se discutem e circulam interpretagóes sobre as identidades, interesses e necessidades conformando um contradiscurso e, ao mesmo tempo, como base e local de preparagáo de atividades de agitagáo, dirigidas a um público mais ampio. No entanto, por fazerem parte dos públicos débeis —aqueles cujas práticas deliberativas, aínda segundo Nancy Fraser, consistem exclusivamente na formagáo de opiniáo, ficando excluidos da tomada de decisóes— as atividades desses grupos tiveram sua eficácia ou incidencia substantiva junto a um público mais ampio relegada, ou retardada, até serem considerados de interesse por algum setor integrante dos públicos fortes, mais próximos ou com maior contato com a representagáo parlamentar.