A tarefa de imaginar mundos possíveis e alternativos àqueles que se impõem aqui, hoje e agora não poderá ser encerrada pela pena de quem formula uma ou outra teoria, filosofia ou conhecimento científico.
Supor o contrário nos levaria a incorrer naqueles erros anunciados pela crítica a respeito dos riscos da moralização da política e das denúncias sobre os exageros de uma razão normatizadora. O que não quer dizer, por outro lado, que o movimento transformador operado no instante em que esse convite é formulado –o convite à ação-imaginada feminista– não tenha implicações sobre o modo como produzimos conhecimento. Tampouco significa que a faculdade de imaginar não seja central para as maneiras pelas quais produzimos conhecimento – teórico, filosófico, científico.
A ação-imaginada não se encerra, no entanto, nos feminismos – ou seja, não são apenas o gênero, os femininos e as mulheres os sujeitos que compõem o exercício. É o que nos ensina Saidiya Hartman (2008) ao propor: e se pudéssemos imaginar que jovens mulheres negras são sujeitos revolucionários?, sujeitos do domínio internacional, sujeitos políticos, sujeitos do conhecimento dito válido e justificável.
É justamente neste encontro entre feminismos, imaginações antirracistas, construção de conhecimento e os contornos de uma pesquisa que este capítulo está assentado.
Aceitamos, portanto, como ponto de partida, que os feminismosantirracistas não se resumem a uma ou outra teoria, ponto de vista, saber científico ou filosófico; porém, disso não derivamos a defesa de que as teorias, as filosofias e os pontos de vista não possam ser qualificados como ou nomeados como feministas-antirracistas.