No caso da América do Sul, os grupos ameríndios têm ocupado entre nós, antropólogos, o lugar do “exótico” essencial ao exercício da disciplina. Este lugar, como sabemos, está diretamente relacionado ao imaginário social que construímos sobre os grupos indígenas americanos. A distância geográfica e sócio-cultural que separavam “nós” e “eles” fizeram dos ameríndios os nossos “exóticos ideais”: viviam em áreas remotas de montanhas e florestas, falam línguas incompreensíveis e possuem costumes estranhos aos nossos olhos. Durante muitos anos, nós, antropólogos, consideramos a floresta como o habitat natural das populações ameríndias. Assim sendo, os grupos que migravam para áreas urbanas ou rurais passavam a ser classificados como “aculturados”, “extintos” ou “assimilados” (Darci Ribeiro (1977).
Fora do seu habitat e destituídas do seu ethos estas populações não despertavam o interesse dos etnólogos por serem consideradas parte do proletariado urbano.
No entanto, nas últimas décadas, alguns estudiosos brasileiros que se dedicam à pesquisa de grupos ameríndios têm se deparado com um novo campo de investigação: a cidade. E são os próprios índios, nosso objeto de investigação, que estão reorientando o nosso olhar e ampliando nossos horizontes de compreensão sobre esta nova dimensão da vida social ameríndia – nova, para nós, pesquisadores, pois sabemos que o espaço urbano é parte da experiência ameríndia desde que foram fundados os primeiros núcleos urbanas nas Américas.