Os estudos científicos sobre as políticas ambientais têm adquirido, ao longo das duas últimas décadas, considerável visibilidade em diversas áreas do conhecimento e se constituído tema relevante de pesquisas aplicadas. Nas Ciências Sociais, especialmente na Economia e na Ciência Política, se verifica, ao menos na produção de alto fator de impacto, uma notável expansão na quantidade e diversificação dos métodos, modelos e teorias neste campo do conhecimento.
Mobilizando um amplo espectro de teorias, de modelos, e de perspectivas metodológicas, essa área representa importante campo de inovações nos desenhos de pesquisa. Em um conhecido estudo sobre a produção do conhecimento nos estudos jurídicos nos EUA no período 1990-2000, King e Epstein (2002), em sintonia com o estudo seminal Designing Social Inquiry, de King, Keohane, e, Verba (1994), sinalizam para uma preocupação relevante para a compreensão da qualidade do conhecimento produzido pelas Ciências Sociais: “em que medida um dado campo do conhecimento estaria se movendo na direção das regras de inferência e produzindo conhecimento causal crível?”. Este problema, conhecido aqui como “ajuste inferencial” tem sido alvo de intensa preocupação nos debates metodológicos contemporâneos no interior de disciplinas como a Economia e a Ciência Política sobre a conexão entre desenhos de pesquisa e qualidade inferencial, e pavimentando uma nova reflexividade sobre as bases para a revolução de credibilidade por diferentes variantes.
Tomando os estudos ambientais como “caso” este artigo busca compreender a dinâmica do ajuste inferencial ocorrido na área da Ciência Política ao longo dos últimos 11 anos. A análise empírica busca gerar evidências sobre o argumento do ajuste inferencial, verificando a ocorrência de uma maior adequação da conexão entre desenhos de pesquisa e qualidade inferencial de forma similar ao que vem se configurando de forma mais geral na Ciência Política. Este ajuste termina por configurar uma condição característica na produção do conhecimento de Pluralismo Inferencial (Rezende, 2017; 2016) na qual coexistem múltiplas lógicas para a produção de inferências causais válidas.
Neste contexto, a questão central abordada pelo artigo é: “em que medida a produção científica de alto fator de impacto da Ciência Política, nos últimos 11 anos, que se volta para os estudos das políticas ambientais, está em sintonia com o processo de ajuste inferencial?” Este trabalho objetiva problematizar a atual agenda de pesquisa sobre o meio ambiente e identificar as escolhas metodológicas adotadas pelos pesquisadores, de modo a verificar a ocorrência do pluralismo inferencial nos estudos ambientais.
O artigo está estruturado em três seções. A primeira seção apresenta uma breve discussão sobre a importância dos desenhos de pesquisa e do ajuste inferencial nos estudos da Ciência Política. A segunda seção explicita a metodologia utilizada para a mensuração e análise dos dados coletados. E na terceira seção são apresentados os resultados da pesquisa. O artigo tece considerações finais sobre a análise em torno do pluralismo inferencial na produção acadêmica da Ciência Política, com ênfase na temática ambiental.