Diversos países do Cone Sul estavam sob ditaduras de Segurança Nacional no final da década de 1970. Visando impedir o avanço de ideologias progressistas no subcontinente, diversos golpes de Estado foram perpetrados por militares com a decretação de Estado de sítio ou de emergência, restringindo reuniões, a formação de associações e a liberdade de expressão e de opinião. No plano militar, manifestações populares foram controladas e, em geral, eliminadas e qualquer foco de oposição organizada foi, igualmente, desbaratado e aniquilado (Bauer, 2009, p. 175). Nesse cenário, houve grande deslocamento de perseguidos políticos pelos países da América do Sul em busca de uma terra próxima a sua pátria que não representasse perigo diante de sua condição. Após o golpe de Estado argentino, em 1976, o último destino para muitos foi o Brasil. O golpe acelerou uma onda de repressão já iniciada nos meses anteriores. Os grupos armados, em grande parte, já haviam sido desarticulados; agora o alvo eram outros opositores ao regime, como padres progressistas, sindicalistas, estudantes, jornalistas, psicólogos e todos aqueles que tivessem qualquer tipo de militância de esquerda (Rocha, 2018, p. 21). Com o aumento da repressão na Argentina, muitos estrangeiros cruzaram a fronteira de forma legal ou clandestina, buscando no Brasil um lugar de permanência ou apenas de passagem, a caminho do exílio.