Este artigo é fruto de minha pesquisa de pós-doutorado realizada no Instituto de Altos Estudos da América Latina (Sorbonne Nouvelle-Paris) e procura mostrar como uma «cultura militante sem fronteiras» foi se constituindo naqueles anos, atravessando países e continentes, se formando ou se desfazendo em alguns momentos, e se solidificando em outros. Como afirmou a professora Maria Lygia Quartim de Moraes, aqueles anos foram anos de internacionalismos, da solidariedade e da descoberta das identidades. E, «na velha retórica comunista-socialista a palavra ‘solidariedade’ era um valor respeitado» [MORAES, 1996, p.53].
A solidariedade estava presente, sobretudo na luta contra as ditaduras que tomavam conta de um mundo dividido pelo contexto da Guerra Fria e que exigia uma tomada de posição reativa ou ofensiva. Para além das discordâncias políticas no seio da esquerda brasileira e internacional, as redes de militância política de esquerda e simpatizantes permaneceram e se difundiram naqueles anos em contraposição aos grupos da direita, responsáveis pela criação das escolas de treinamento militar para a eliminação de toda e qualquer oposição política no continente justificada pela ideia de fronteiras ideológicas.