Os dados produzidos por projetos de levantamento de superfície realizados na Itália central nas últimas décadas têm sido amplamente utilizados para o estudo do campesinato romano. Tal uso desses dados é tributário do esquema de classificação utilizado para interpretar esses vestígios arqueológicos, fundamentado sobretudo nas categorias “Villa” e “Small Farm”. Ambas são determinadas por um debate préestabelecido sobre a crise do campesinato e ascensão da “villa escravista” e por imagens pré-concebidas sobre o que é uma “propriedade escravista” e uma “propriedade camponesa”. Neste texto, pretendo levantar algumas questões sobre o que considero serem as premissas básicas que fundamentam a imagem de uma “propriedade camponesa” subjacente à este modelo interpretativo. Acredito que essa imagem está fundamentalmente ligada a uma visão tradicional e superada de campesinato (visto como um grupo social atrasado, isolado, voltado para a mera produção de sua autossubsistência) e que pode ser questionada tanto em termos teórico-conceituais quanto a partir de algumas recentes escavações de sítios arqueológicos provavelmente ligados ao campesinato itálico.