Os corpos são pura linguagem e poder. Muito pouco de natureza existe neles. Práticas discursivas e práticas não discursivas construíram nossos corpos; discursos históricos carregados de poder, ditaram como deveria ser um ho mem e consequentemente, como deveria ser uma mulher. Este texto tenta demonstrar que cultura ou que discurso atemporal construiu a mulher. Como o corpo da mulher, foi pensado e como foi inventada a “natureza feminina”.
Platão nomeia a “natureza feminina”, responsabilizando a matriz (útero) pelas doenças femininas. Hipócrates, seguindo Platão, teoriza a “sufocação uterina” relacionando o fraco com o feminino e o forte com o masculino, hierarquizando os sexos desde a geração. Platão e Hipócrates unem-se na concepção da mulher encarada como matriz; a semente, a produção, é exclusiva do masculino.
Aristóteles, talvez o mais influente filósofo grego, elabora um modelo explicativo sobre a geração, a determinação do sexo e a existência das monstruosidades em duas obras: A Geração dos Animais e As partes dos animais, designando ao feminino, inferioridade em todos os planos.
O tamanho do cérebro, conceito utilizado durante muito tempo para caracterizar a mulher como um ser inferior, aparece pela primeira vez em Aristóteles. Segundo o filósofo, a mulher é um defeito, doente por natureza. Aristóteles é o primeiro pensador a transformar a diferença sexual em desigualdade, demonstrando que corpo é produto de momentos específicos, históricos e culturais, enfim, um trabalho de arte. A aliança do pensamento filosófico grego com outros discursos, especialmente o religioso, foi fundamental para definir a moral sexual ocidental.
A final, o que tem de natureza em nosso corpo? A natureza que sempre no mearam em nosso corpo e em nossa subjetividade é natural ou uma construção social, política e cultural? Quando se designa uma “natureza feminina”, retira-se o caráter de construção do discurso que imputa à mulher, funções, papéis e comportamentos e, ao mesmo tempo, a transforma em mera espectadora de uma situação que parece imutável.
A filosofia em sua perene preocupação com o sentido da vida, das relações entre os seres, foi também o discurso que se preocupou com o sexo. Esta preocupação em classificar a diferença sexual em relação a outros tipos de diferenças acabou por transformar em certeza científica a inferioridade feminina. F ilosofia e M edicina estavam ligadas a uma arte de viver, que era simultaneamente médica e ética.