Nosso trabalho, fundamentado na Teoria das Operações Predicativas e Enunciativas (TOPE) de Antoine Culioli, analisa um conjunto de enunciados do português brasileiro em que se faz presente a preposição PARA, caracterizada como “preposição de discernimento”, de acordo com a Grammaire des prépositions, de J. J. Franckel e D. Paillard (Paris, Editions Ophrys, 2007). Ao longo de nossas análises, buscaremos evidenciar as operações que, constitutivas da natureza semântica de PARA, decorrem das diversas interações suscetíveis de se estabelecer entre essa preposição e os termos (noções) que, de um lado, a antecedem, de outro, são por ela introduzidos. No âmbito da TOPE, uma preposição não é apreendida como a tradução de um sentido que existiria independentemente do próprio material verbal no qual ela se encontra inserida, o que atesta a impossibilidade de identificá la, semanticamente, por meio de um sentido básico, de um “conteúdo permanente”, visto ser este necessariamente fruto da inserção discursiva da preposição. A partir dessa hipótese, ilustrada por diferentes enunciados, mostraremos ser possível propor uma definição semântica unitária (dinâmica invariante ou forma esquemática) de PARA sustentada por esquemas operatórios que se manifestam no conjunto de seus empregos, independentemente de considerações de natureza gramatical que concebem os sintagmas preposicionais como partes de processos de complementação, adjunção ou outros. Com uma metodologia sistemática de paráfrases e glosas, pudemos formalizar uma dinâmica invariante que seria constitutiva da função exercida pela preposição PARA no âmbito das construções por ela integradas. Essa invariante seria uma forma definidora da variação. Assim, em poucas palavras, em relação ao funcionamento desta preposição, sustentamos a hipótese de que, dado um enunciado do tipo X PARA Y, PARA marca que Y constitui um modo de apreensão (não definitivo) de X, considerando Xy do ponto de vista de uma categorização que é externa ao que é intrinsecamente constitutivo de X.